quarta-feira, 14 de abril de 2010

Funcionava...

E por isso dizia que na teoria funcionava.
Tudo parecia muito bonito no papel, nas músicas, na televisão.

Era só fazer de conta que era bom, seguir aquele antigo livro, chamar a todos de irmãos.
Pisando fora daquele lugar frio, com gente estranha vestida igual, falando alto e por vezes gritando, a coisa era outra. Afrouxava a gravata, pedia uma cerveja, acendia um cigarro. Bem longe dali, claro, pois algum irmão poderia ver. E os olhos não perdoavam, condenavam amargamente. Doía. Mas ele também condenava. E sentia a culpa.

Aquilo era estranho, porque a culpa que sentia cada vez mais o tentava a fazer aquilo que lhe dava a sensação de culpa. Um círculo, do qual ele não conseguia sair. Vez ou outra conseguia escapar, rompia a borda do círculo, respirava na parte de fora, e voltava. Se redimia, e voltava. A felicidade era a redenção. Obter a redenção o fazia sentir melhor, o fazia sentir livre e bom.

O mais peculiar de tudo é que ele fingia não saber, mas desde o início sentia que havia vida apenas fora do círculo.
E alguém um dia lhe disse que ele não pertencia àquele lugar. Ele era parte integrante, ele colaborava, era filho, era irmão, dava dinheiro, se privava. Ele tinha que se vestir daquela forma, doar aquele valor, dizer muitos nãos mesmo quando quando o sim sorria internamente para ele. Tinha que querer sempre mais, mas não podia aparentar isso. Tinha que amar a todos como irmãos, mas devia também selecionar quais seriam os tipos válidos de amor. Tinha que respeitar a todos, e apontar somente alguns. Ele sempre tinha que fazer algo. Sempre.

Ele só não tinha que viver. E talvez fosse tarde demais para perceber isso.

3 comentários:

  1. Texto todo perfeitinho do ponto de vista estrutural, além de interessante e fácil de ler. Adorei!
    Treine e desenvolva a habilidade que tem para escrever, tem futuro (:

    Lau.

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  2. Belo texto loira bonita...

    Agora a questão é, se ele sair definitivamente deste círculo, ele não entraria em outro com valores que estão na mesma linha, só que da outra ponta da corda? Eu tenho medo disso, sabe?

    E talvez eu esteja viajando também..hahaha!!

    Te amo loira. = )

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  3. Que mara amor!

    Acredito que quando saimos de circulos viciosos e dolorosos,mesmo sabendo que por alguns instantes sentirá falta dele, seu horizonte se abre. Como no mito da caverna.

    E acredito que quando sabemos e reconhecemos os nossos valores, sair de circulos desta forma não se torna algo impossivel, é só desejar,talvez apanhar um pouco por vontade de mudar,mas mudar
    sempre

    bjoamor

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